02 março, 2016

Entrevista com Javier Rapp - Autor de: DISTRAÇÕES

Nasceu em Bariloche, na Argentina, em 1966, filho de um físico e uma artista plástica. Aos dois anos, mudou-se para os Estados Unidos, com mãe e irmã, para acompanhar o pai, que ia desenvolver a sua pesquisa de doutorado, retornando para a sua cidade natal aos cinco. Aos dez, atendendo a um convite do Instituto de Física da UFRJ, seu pai trouxe a familia para o Rio de Janeiro, a fim de se afastar da violência do regime do General Videla e em busca de situação econômica mais favorável. Iniciou os estudos literários na Université de Grenoble III, França, concluindo-os na Faculdade de Letras da UFRJ em 1990. Obteve em 1995 o grau de mestre em Ciência da Literatura pela UFRJ, com a dissertação Sade – As razões do paradoxo. Leitor voraz desde a primeira infância, demorou muito tempo a ver nisso algo além do  imenso prazer que experimentava. No fim da adolescência, começou a rabiscar algumas linhas e a acalentar a possibilidade de dedicar-se à escrita como ofício. Desse momento em diante, sem inteiramente renegar sua vocação, adiou a oportunidade de segui-la, buscando uma expressão ideal, um aperfeiçoamento estético, que talvez não se encontre no horizonte do possível. Muitos dos escassos textos produzidos, que, embora não tivessem a coragem de reclamar publicidade tampouco aceitaram o suicídio, aqui estão – como nasceram ou transformados. Já que o impasse não poderia durar para sempre, decidiu abraçar tanto sua paixão como seus limites e finalmente publicar este primeiro livro, que iniciará a caminhada em busca dessa inatingível utopia estética.



É um livro despretensionso, no melhor sentido que essa palavra possa adquirir. Não se trata de uma obra displicente ou descomprometida. É um texto que se oferece sem empáfia e sem solenidade, que deseja dar prazer e questionar, mas sem teatralidades, sem afetações que queiram fazê-lo parecer o que não é. Não renuncia, no entanto, a certa elaboração formal e menos ainda ao (des)controle da emoção. Tem na capa e no título uma metáfora de sua essência, um acúmulo de rabiscos simples, de traços elementares, mas que para esses artistas “primitivos” representavam a mais alta expressão de seus medos e sonhos, de suas necessidades e aspirações, flertando com o mágico e o sagrado.


Muitas influências se reconhecem neste livro e se distribuem de forma desigual. Não chegamos a encontrar textos à moda deste ou daquele poeta, mas é evidente que, em alguns casos, o autor estava fortemente inspirado pelo recursos estilísticos de um Camões, de um Vinícius, de um Leminki. Aliás, a exploração de antíteses e o gosto pelo humor e o trocadilho são talvez umas das notas mais presentes neste pequeno livro. Embora não se trate aqui de uma poesia predominantemente visual, alguns textos parecem buscar sua força numa fanopéia inspirada num Lorca ou num Albano Martins, artistas profundamente admirados pelo autor. Fernando Pessoa, Verlaine, Baudelaire, Augusto dos Anjos, os irmãos Campos, Caetano Veloso, Antonio Cícero e Arnaldo Antunes são outras forças de quem Javier Rapp se reconhece devedor.

Olá Javier. É um prazer contar com a sua participação no Blog Divulgando Livros e Autores da Scortecci do Portal do Escritor.

Do que trata o seu Livro? Como surgiu a ideia de escrevê-lo e qual o público que se destina sua obra?
Sempre fui apaixonado pelo texto,  romances, contos, poesia. Em certo momento decidi que queria me dedicar ao estudo da literatura e nesse momento comecei a flertar com a ideia de escrever. Fiz graduação e mestrado em literatura, mas  quando ainda sobrevivia de uma bolsa de mestrado, acabei buscando meu sustento em um emprego público melhor remunerado que as possibilidades que se me anunciavam. Assim, há muito alimentava o desejo de escrever, entre outras obras, um livro de poemas. A questão mais difícil de decidir é quando a obra que a gente produz está madura e tem qualidade para ser apresentada ao público. E a grande sacação é nunca somos capazes de dar essa resposta, é o mundo que vai dizer isso e a resposta pode variar ao longo do tempo. O que me levou a publicar o livro foi essa percepção e uma boa dose de coragem.
Meu livro se destina aos apreciadores da poesia e das delicadezas da linguagem e do pensamento.

Fale de você e de seus projetos no mundo das letras. É o primeiro livro de muitos ou apenas o sonho realizado de plantar uma árvore, ter um filho e escrever um Livro?
Como comentei na pergunta anterior, se a vida permitisse ou se tivesse tido a coragem necessária, teria me dedicado exclusivamente à escritura.
A publicação de Distrações é o gesto que marca minha decisão de escrever e publicar regulamente. No momento estou escrevendo uma peça de teatro que desejo concluir ainda este ano e que tem uma proposta bastante ousada. Já tenho bastante material também para um segundo livro de poemas começarei a formatar assim que tiver concluído a peça.

O que você acha da vida de escritor em um Brasil com poucos leitores e onde a leitura é pouco valorizada?
Particularmente em relação à poesia, o problema, me parece, se estende também a muitos países de primeiro mundo. As pessoas no mundo inteiro quase não leem poetas contemporâneos. Alguns clássicos ainda merecem atenção inclusive através das atividades escolares, mas em geral a poesia recebe muito menos atenção que outros gêneros. Em relação à ficção, tenho a sensação de que a situação local melhorou um pouco, com alguns autores conseguindo arrebanhar um número razoável de leitores.
Agora, é evidente, quanto mais sofisticada e inovadora a obra, mais difícil é atingir o grande público.
Viver de escrever é muito difícil aqui, mas não é fácil em nenhum lugar do mundo.

Como você ficou sabendo e chegou até a Scortecci Editora?
Fiz uma pesquisa na WEB e escrevi alguns e-mails. Depois conheci uma poeta com quem tenho uma amiga comum que também publicou com a Scortecci. A coincidência me fez querer saber como ela tinha chegado até vocês, mas ela ainda não me respondeu. Acho a Scortecci uma editora muito correta e profissional. Eu a recomendaria a qualquer autor estreante.

O seu livro merece ser lido? Por quê? Alguma mensagem especial para seus leitores?
Não o publicaria se pensasse que não. Creio que ele pode dar muito prazer e fazer questionar algumas visões de mundo consolidadas. A poesia requer uma leitura atenciosa. Há muita coisa abaixo da superfície que passa despercebida para quem faz uma leitura diagonal. Meus poemas são muito leves e pouco solenes, podem dar a ideia de que são apenas jogos de palavras, mas quase sempre apontam para um mundo diferente desse em que estamos acostumados a viver.

Obrigado pela sua participação.

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