04 julho, 2016

Entrevista com Carlos Méro - Autor de: DIAS ASSOMBRADOS EM ROMA E OUTRAS PROSAS

Nasceu em Penedo, Alagoas, Brasil, em 1949. Graduado em Direito, ocupou as funções de Promotor de Justiça, Consultor Jurídico, Procurador de Estado e Desembargador Federal Eleitoral (à época Juiz do Tribunal Eleitoral do Estado de Alagoas). Hoje exerce a Advocacia e é Presidente da Fundação Pierre Chalita – FUNCHALITA – e da Academia Alagoana de Letras. Publicou: Um gosto de mulher (poesias). Maceió: Sergasa, 1994; Vida paixão e morte do irmão das almas (novela). São Paulo: Scortecci, 1999; Herdeiro das trevas (novela). São Paulo: Scortecci, 1999; O beco das sete facadas (contos). São Paulo: Marco Zero, 2005; O chocalho da cascavel (contos). São Paulo: Nelpa, 2011. Publicou, ainda, em coautoria com Teresa Cristina Duarte Simões, Travessias (contos). Maceió: Viva, 2013. Acrescente-se, ainda, entre as suas obras, o ensaio Graciliano Ramos: Un Monde de Peines. Lille (FR): TheBookEdition, Collection Arabesque, 2015. Hoje vive em Maceió, Alagoas.

Um relato cru e sem rodeios das desventuras de um brasileiro que, em Roma e já no derradeiro dia de uma viagem de recreio, viu-se surpreendido por um acidente vascular cerebral. O hospital, as dificuldades de comunicação, a identidade dissolvida no meio da multidão de pacientes, os incômodos e as intolerâncias (apesar do aconchego solidário de estranhos), o quase que proibido contato com a família, a sonegação de informações sobre o estado do paciente. 
As incertezas e inseguranças do enfermo, o que o empurra a uma decisão drástica: retornar de qualquer jeito ao Brasil, apesar dos riscos e mesmo que contrariando as ordens dos médicos romanos. A história real de uma experiência de nem se desejar aos piores inimigos.
O autor, já no derradeiro dia de uma viagem de férias à Itália, é surpreendido com um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Hospitalizado no Policínico Umberto I, durante onze dias aguarda uma intervenção cirúrgica destinada à remoção de um vasto edema localizado na parte frontal do cérebro, bem como de uma Malformação Arterio-venosa (MAV). 
Durante este período, particularmente enfrentou a amarga realidade de se ver hospitalizado em outro país, quando a dificuldade de comunicação, em virtude do não suficiente conhecimento da língua local, finda por lhe determinar um doloroso isolamento. 
O que é agravado pela estranheza, por vezes chocante, em face do tratamento oferecido ao paciente, no que se refere à negação de informações, inclusive aos seus familiares, quanto ao seu verdadeiro estado de saúde, além de não raro ter de suportar o mau humor e mesmo a rudeza dos tratadores.
Finalmente, empurrado pelas indefinições quanto ao tratamento a ser submetido, termina o narrador, após ter a ele sido administrado o outrora denominado sacramento da Extrema-Unção, por deixar o hospital, quase que fugido, pois que a contragosto dos médicos, dos enfermeiros e da gente da administração. 
Retorna, então, ao Brasil, e pontualmente a São Paulo, onde é submetido a uma craniotomia e consequentemente à imprescindível intervenção no cérebro comprometido. A partir daí, os sacrifícios impostos pela esperançosa busca do restabelecimento, o que não apenas exige a disposição e a coragem do enfermo, mas também a solidariedade e o apoio dos que o cercam.
Outras prosas
O volume ainda compreende um ensaio sobre o poeta Jorge de Lima e um outro sobre o prosador Graciliano Ramos, além de um de-poimento sobre a poetisa alagoana Solange Lages Chalita. Os dois primeiros correspondem a palestras proferidas pelo autor: Uma Negra Fulô e dois olhares poéticos, na Universidade de Toulouse II – Le Mirail, em fevereiro de 2013; Graciliano Ramos: um mundo coberto de penas, na Universidade Paul Valéry, em Montpellier, em fevereiro de 2014. O depoimento sobre Solange Chalita é inédito.

Olá Carlos. É um prazer contar com a sua participação no Blog Divulgando Livros e Autores da Scortecci do Portal do Escritor.

Do que trata o seu Livro? Como surgiu a ideia de escrevê-lo e qual o público que se destina sua obra?
Cuido do relato de uma minha vivência durante uma estada em Roma: AVC, morte anunciada, internamento, incertezas, fuga do hospital, ariscado voo ao Brasil, cirurgia em São Paulo, amargo restabelecimento.
Uma necessidade, talvez estouvada, de compartilhar uma insólita experiência.
Mais um desabafo a quem interessar possa.

Fale de você e de seus projetos no mundo das letras. É o primeiro livro de muitos ou apenas o sonho realizado de plantar uma árvore, ter um filho e escrever um Livro?
O ato de escrever, seja pelo memorialista, pelo poeta ou pelo ficcionista, responde a um talvez inexplicável impulso interior que o estimula a se revelar, a exteriorizar os seus sentimentos e as suas inquietações ou convicções. Uma forma de escolhido desnudamento, sem uma razão que se possa ver universalizada.
Já tive outras aventuras literárias publicadas em livros, jornais e revistas especializadas.
Não vejo o ato de escrever como um simples esforço por testificar a própria existência, fincando-se um marco da efêmera passagem pela vida.
Escrever e publicar é antes ativamente participar do mundo em que se inclui o autor. Desventrar e partilhar, através da mensagem, a sua visão da realidade e por vezes do absurdo da existência. A esperança da imortalidade fica aos desencatados com o próprio tamanho.

O que você acha da vida de escritor em um Brasil com poucos leitores e onde a leitura é pouco valorizada?
O desinteresse do brasileiro pela leitura é sem dúvida, desalentador, mas não esterilizante. A literatura, quando pouco, desperta e alimenta os sonhos. Um leitor que colha a mensagem de qualquer autor já é razão de sobra para este não se tenha calado.

Como você ficou sabendo e chegou até a Scortecci Editora?
Não é de hoje que conheço o esmero editorial da Scortecci. Ainda no século passado, mais precisamente em 1999, já publicava com ela duas novelas: Vida, paixão e morte do Irmão das Almas e O herdeiro das trevas.

O seu livro merece ser lido? Por quê? Alguma mensagem especial para seus leitores?
Dizer o autor que seu livro não merece ser lido seria negar-se a si mesmo. Salvo se empurrado por uma pretensiosa modéstia de faz de conta. E a modéstia fingida é uma das mais ridículas formas de forçar reconhecimento e nutrir uma vaidade, umas tantas vezes, sem um mínimo rastro de raiz.

Obrigado pela sua participação.

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