28 fevereiro, 2018

Entrevista com João Rosa de Castro - Autor de: SANTA MARIA D`OESTE

Participou de encontros organizados pelo Departamento de Letras Modernas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas – Universidade de São Paulo. Fez seu primeiro contato formal com a literatura anglo-irlandesa, sobretudo o drama irlandês contemporâneo. Iniciou pós-graduação também instituída pela FFLCH.
Profissional de letras, com licenciatura plena, em São Paulo, traduziu, para o Português, ensaios de Oscar Wilde, Caneta, Lápis e Veneno, A Decadência do Mentir, A Alma do Homem sob o Socialismo, etc., e para o Inglês, Invasores de Marte: As Aventuras de Joaquim e Eduardo, primeira parte da saga infanto-juvenil, de Michael Ruman, e Origami, Primus AD e Mosaicos Urbanos, de Maurício R B Campos.
Atualmente, o autor desenvolve poesia e prosa em língua portuguesa, divulgada na Internet (www.lumedarena.blogspot.com.br) e em diversas antologias poéticas na forma tradicional. Dedica-se à crítica literária, à versão, tradução e revisão em Inglês e Português, à Filosofia, à Literatura e à Ciência.

Mesmo não tendo um defunto autor, como em Memórias Póstumas de Brás Cubas, Santa Maria d’Oeste trabalha com muito talento os elementos do grande romance de Machado de Assis, situando-os em uma vivência contemporânea que convida o leitor a acompanhar as reflexões de um narrador-personagem que transita entre vários temas, referências e situações vividas por ele. Colocado diante do que chama de tear da alma, lembra de palestras e palestrantes do Café Filosófico da TV Cultura, de Nietzsche, Comte, Col dplay, Oswaldo Montenegro, quase sempre se dirigindo à Santa Maria, que acolhe suas inquietações. Na verdade, o que o narrador-personagem chama de escrevinhação está destinado a desafiar o leitor a percorrer os caminhos de sua consciência.
Justamente por serem desafiadores, tais caminhos não são fáceis, pois não se revelam de maneira transparente. O leitor está diante da escrevinhação de um homem erudito, cuja eloquência constrói um mosaico de temas e pensamentos que vão dando forma à sua alma nesse tear. Pequenas narrações, reflexões sobre o amor, sobre a homossexualidade, sobre a música brasileira, entre outras coisas, deixam no leitor uma impressão convincente, e, ao mesmo tempo, estimula-o a ir além disso, para explorar algo latente em meio à diversidade apresentada.
O alto poder de convencimento desse narrador-personagem dá a impressão de um homem poderoso, senhor de si. Entretanto, o que sua erudição deixa entrever no decorrer da leitura é justamente um homem frágil, que tem em sua eloquência uma mo-rada, uma proteção, uma resistência. Essa fragilidade requintada tem a ver com a condição do homem de letras contemporâneo que, longe de ocupar um lugar privilegiado, se vê à margem, não só financeiramente, mas também culturalmente. Um olhar humanístico que se choca com o mercado de trabalho, com os preconceitos, com a cultura de massa, e que, como resultado desse choque, também se volta para dentro, de onde deixa transparecer, por trás de sua eloquência, uma auto-ironia catártica – para o narrador-personagem e para os leitores que se identificam com ele.

Olá João. É um prazer contar com a sua participação no Blog Divulgando Livros e Autores da Scortecci do Portal do Escritor.


Do que trata o seu Livro? Como surgiu a ideia de escrevê-lo e qual o público que se destina sua obra?
Santa Maria d'Oeste, assim como todos os meus livros, trata da vida, e têm-na como matéria-prima. As experiências vividas principalmente, em detrimento das ouvidas ou lidas, são o suprassumo da obra. Por tratar de questões profundas da realidade vivida num contexto dos anos 2000, e, em não podendo essas questões serem debatidas na psicanálise, creio que o público mais disposto a me ler é o da classe de psicólogos. Apesar de que escrevo para todos e para ninguém. Assim como todos os possíveis leitores são um pouco psicólogos e também não são. Estamos no rio e não estamos.

Fale de você e de seus projetos no mundo das letras. É o primeiro livro de muitos ou apenas o sonho realizado de plantar uma árvore, ter um filho e escrever um Livro?
Não tenho filhos, sofre minha árvore da felicidade (fêmea): resta-me apenas o macho. Não se trata de nada transcendental ou prescrito por nenhuma tábua de valores. É apenas uma forma de escoar conhecimentos, dividir experiências, trocar ideias, importunar gentes (por que não?), levar as pessoas a refletir a possibilidade de fundir ideias distantes ao mesmo tempo em que separam as ideias há muito fundidas.
É o segundo livro em prosa, depois de 16 escritos em verso, num pequeno corpus de trinta e um livros no total. Não tinha intenção de partir para as letras, isto ocorreu-me. Meus planos iniciais eram o de seguir a carreira das psicologias. Mas estava muito tarde para me enveredar por estas searas. Daí ter escolhido o curso de letras, que me permite sentir também um pouco psicólogo. Agrada-me, tenho muito prazer em dividir minhas experiências através das letras. Creio que atirei no que vi e acertei no que não vi.

O que você acha da vida de escritor em um Brasil com poucos leitores e onde a leitura é pouco valorizada?
Degradante. Ainda bem que não me considero escritor. Isto é função dos leitores. Mais ainda, não considero sequer isto uma profissão. Lembro-me de um ditado das minhas aulas de língua latina com o muito divertido professor Iulunga: letras não dão pão. O que me redime e permite sobreviver é mesmo acordar, lavar roupas, cuidar da alimentação, ler (muito mais do que escrever!), conversar com meus circunstantes, pesquisar minha vida como se fosse o meu melhor objeto de observação. Deixar minha obra para os pósteros ou para algum arqueólogo do futuro.

Como você ficou sabendo e chegou até a Scortecci Editora?
No curso de letras, conheci a Marcielena (não me recordo o sobrenome dela). Isto faz já alguns anos. Lembro que quando vi a capa de seu livro: O Cavaleiro Negro no Deserto, fiquei encantado com o trabalho da Scortecci. Infelizmente, li depois a obra e encontrei uma profusão de erros (falhas e equívocos), na forma, no conteúdo, na sintaxe, na coerência e na coesão... Não foi muito interessante a experiência com aquele livro. Mas gostei da coragem e da liberdade que a editora permitiu a distinta escritora. Que, aliás, talvez tenha cometido todos aqueles erros intencionalmente. Nunca sabemos até onde vai a liberdade moderna.

O seu livro merece ser lido? Por quê? Alguma mensagem especial para seus leitores?
Todo livro merece. O meu não é diferente. Escrevemos para comunicar. Falar com as paredes deve ser um caos maior. Não ser lido é mais ou menos isto. Aliás estou passando por muitas dificuldades para realizar uma tarde de autógrafos. Tenho o livro, tenho os convidados, tenho tempo, mas não há local para realizá-lo aqui perto, onde moro. E quero que seja por aqui, pois a maior parte dos meus conhecidos estão por esta região da Zona Leste. A periferia além do Rap.
Sendo assim, e como parece que não me permitirão fazê-lo, num encontro presencial, faço aqui o que queria fazer no dito encontro, a saber: agradecer às pessoas que participaram de alguma forma na realização desta publicação:
Agradeço a todos os leitores desta entrevista, que me ajudam a promover o livro Santa Maria d’Oeste e me prestigiam com a divulgação.
À Gláucia Lisboa de Carvalho e José Carlos Prestes Júnior, por terem lido o livro antes de todos, com o fito de redigirem o prefácio.
Ao Léo de Carvalho e Maria Alice Paes, pela Inspiração Literária de Sempre.
À Rosângela Rodrigues, pela Inspiração e Companhia de sempre.
Ao mestre escritor, Mauricio R B Campos, pela Ideia de Publicar o livro no Formato Físico.
À Minha mãe, e a toda a sua casa, pela ajuda vital.
Aos Comerciantes da Vila Curuçá, pela divulgação da minha obra, em cartazes que difundi por aqui.
Ao CAPS Perdizes, pelo Apoio dos Funcionários e Usuários.
Ao CAPS Itaim-Paulista, pelo Apoio de Eliel Lima de Andrade, do departamento administrativo e da psicóloga Ana Paula Lopes da Cruz.
Ao CECCO Parque Chico Mendes, pelo Apoio da Coordenadora Iria Mariani e de Outros Funcionários.
À Casa de Cultura Itaim, pelo Apoio do Coordenador, Músico e Promotor Cultural, Cacau Ras.
À Fábrica de Cultura Vila Curuçá, pelo Apoio de Wesley Dantas de Souza, do Departamento de Articulação e Promoção.
Ao Juarez Martins dos Anjos Júnior, pela Organização do Evento.
Ao Grupo Editorial Scortecci, pela Publicação do Livro Físico.
À Paola Mariz, pelos Trâmites da Publicação.
À Rhoany Palma Moretti, pela Elaboração da Arte Final.
Ao Valdir Colonhezi, pela Diagramação.
Ao Jeferson Barbosa, pela Criação do Projeto de Capa Original.
À Fundação Biblioteca Nacional, pelo Arquivamento da Obra.
À Câmara Brasileira do Livro, pela Catalogação.
À Universidade Cruzeiro do Sul, e outras instituições que devo contatar, pela possibilidade de realização da tarde de autógrafos.
À Carlos Tiveron, pelo Apoio para a realização da tarde.
E a muitos outros, que posso ter deixado de mencionar, mas que foram importantes para a realização desta publicação.
Muito obrigado, à Maria Cristina Andersen, pela entrevista.

Obrigado pela sua participação.

Um comentário:

  1. Olá, Maria. Revisei e revisei, mas gostaria que fizesse uma correção. Onde está escrito "trata da vida e têm-na como matéria-prima". Deve-se ler "tratam da vida...". Além disso, no anúncio do livro, aquela imagem que parece um cartão, aparece "tratar" da vida, quando o correto deveria ser "trata" da vida. Se for possível corrigir antes de excluir a publicação, ficarei grato.

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